Como funciona um formigueiro
Se você já se deparou com umas formigas carregando umas folhas por aí, provavelmente você já viu uma saúva. Desde a época do descobrimento do Brasil, essas formigas já impressionam os exploradores e incomodam os agricultores. Se você olhar bem de pertinho, vai notar que ela tem 6 espinhos no corpo, é praticamente uma máquina de guerra. A formiga saúva pertence ao gênero Atta, e assim como todas as formigas, pertencem à família Formicidae. E são “primas” das abelhas e vespas, formando um grande grupo, a ordem dos Himenópteros. Existe um outro gênero de formigas que também cortam folhas, Acromyrmex, popularmente conhecidas como quenquém.
Início do formigueiro
Todo formigueiro começa com uma rainha. Mas essa história começa bem antes, no voo nupcial. Todos os anos, milhares de formigas aladas, machos e fêmeas, saem do formigueiro para acasalar. Esse fenômeno é conhecido como revoada, e geralmente acontece em dias quentes e úmidos, depois de fortes chuvas. O período varia conforme a região, normalmente entre setembro e outubro. A fecundação acontece em pleno voo, e vários machos podem fecundar a mesma fêmea. Logo em seguida, a fêmea pousa no chão e procura rapidamente um lugar para cavar. Os machos também pousam, mas não duram muito tempo e acabam morrendo. Um fato curioso é que a fêmea arranca suas próprias asas, pois estas não serão mais úteis no futuro formigueiro.
Depois de achar um bom local, a futura rainha cava um buraco de alguns centímetros. Esse trabalho dura algumas horas. Terminada a escavação, ela faz uma sala para ela ficar chamada de panela. E ela também tampa o buraco de entrada para impedir a invasão de predadores. A formiga então regurgita um fungo que ela trouxe do formigueiro de origem. Esse fungo é cultivado pela rainha, e é ele que servirá de alimento para todo o formigueiro. É comum as pessoas acharem que essas formigas comem as folhas que carregam. Mas na verdade, elas estão mais para fazendeiras, usam as folhas para alimentar o fungo, o verdadeiro banquete.
Depois de 5 a 6 dias, a rainha deposita os primeiros ovos. Depois de aproximadamente 30 dias, estes irão virar larvas, e em 50 dias, pupas. Este processo é chamado de metamorfose completa, que termina com a formação de um inseto adulto, depois de aproximadamente 60 dias. Um outro fato curioso é que as formigas não crescem depois da fase de larva. Ou seja, o senso comum de que uma formiguinha pequena vira uma grande está errado. As formigas já têm o tamanho definido antes de virarem adultas. E essa diferença de tamanho entre estas é muito importante para o formigueiro.
A divisão de funções no formigueiro (Castas)
A formiga saúva é dividida em castas. É uma sociedade muito bem organizada sendo as funções geralmente divididas pelo tamanho. As formigas menores, também conhecidas como jardineiras, têm como principal função cuidar do fungo. Devido ao pequeno tamanho, também conseguem processar os pedaços de folhas em partículas bem pequenas, e misturadas com a saliva, viram um alimento que o fungo adora. Há as enfermeiras que cuidam dos ovos, larvas e pupas. As formigas médias, ou cortadeiras, são as que normalmente você vê perambulando por aí, carregando pedaços de folhas, flores,… E além de carregar, elas cortam as folhas, como o próprio nome já diz. E por fim, como casta permanente, existem as maiores, as formigas soldados, com a função principal de proteger o formigueiro. Com mandíbulas poderosas podem até fazer feridas na pele humana.
Por isso, a importância de terem formigas com diferentes tamanhos, apesar da divisão de tarefas não ser tão rígida assim. Também existem as castas temporárias, que são as fêmeas aladas, conhecidas como içás ou tanajuras. Essa é a que normalmente você vê em épocas de revoada, sendo facilmente identificadas pelo abdômen avantajado. Em algumas regiões, as pessoas comem como um saboroso aperitivo. E existem os machos alados, ou bitus, que são um pouco menores. A rainha, depois de nascerem as primeiras operárias, só têm como função depositar os ovos. Cada rainha carrega milhões de óvulos fecundados, e podem viver até 15 anos. Em apenas um ano, uma rainha de Atta pode gerar 3.500 fêmeas aladas e 35.000 machos (40.000 no total). Se a rainha morre, o sauveiro acaba depois de alguns meses. Isso ocorre porque a vida média de uma formiga operária gira em torno de 4 a 6 meses somente, e só a rainha consegue gerar os ovos. Um dado interessante é que todas as formigas operárias são fêmeas.
A estrutura do formigueiro
Um formigueiro de saúva é composto por panelas, que são estruturas como uma sala de uma casa. Assim como uma casa pode ter uma sala de jantar, uma sala de estar, o sauveiro pode ter panelas com diferentes finalidades. Existem as panelas vivas, onde se cultivam o fungo. Este cresce em um formato parecido com uma esponja, por isso recebe esse nome. Têm também as panelas de lixo, onde são levadas as formigas mortas e restos vegetais; as panelas vazias, que não tem nada e raramente e as panelas de terra, com terra solta. A comunicação dessas panelas com o exterior ocorre por meio de buracos ou olheiros. Existem olheiros de ventilação, para retirada de terra e de alimentação, por onde as formigas entram com o material vegetal cortado.
Um sauveiro adulto com três anos pode chegar a ter de 5 a 8 milhões de formigas e consumir uma tonelada de matéria vegetal por ano. Trata-se de um poderoso inimigo para agricultores, podendo gerar prejuízos imensos. Porém, isso também torna as formigas cortadeiras interessantes. Elas coletam um material abundante na floresta, sem valor nutricional, e transformam em um alimento nutritivo. Não precisam caçar, nem precisam de carne. Trazem um benefício ao ecossistema, como no controle da vegetação, estímulo do crescimento de novas plantas, além de ajudar a revolver e enriquecer o solo. Estimulam também o crescimento de raízes. Se as saúvas fossem exterminadas do planeta, pelo menos algumas espécies de animais e plantas também seriam extintas.
Se você se interessou e quiser mais sobre as formigas cortadeiras e como montar um formigueiro na sua casa, assista ao vídeo abaixo.